Esse momento de oração
e silêncio me ajuda a pensar
de forma clara e objetiva,
a me expressar com facilidade
e a descobrir, todos os dias,
novos talentos em mim.
Eu estou em paz e conectado
a sabedoria divina.
GRATIDÃO POR...
segunda-feira, 30 de abril de 2018
quinta-feira, 26 de abril de 2018
ORAÇÃO QUÂNTICA DEZENOVE - POR ANANDA PORTO
quarta-feira, 25 de abril de 2018
O Que Não Pode Morrer Nunca – Do Livro: O Jardineiro que tinha Fé – Clarissa Pinkola.
“Era uma
vez, há
muito, muito tempo,
na época em que os bichos ainda
falavam e os humanos
ainda conseguiam entender a
língua dos animais,
um pinheirinho que,
embora pequeno em estatura, era imenso em espírito. Ele
vivia nas profundezas de uma floresta, cercado de árvores muito maiores, muito
mais majestosas e muito mais antigas do que qualquer árvore jamais conhecida
até então.
A cada inverno, pais, mães e seus filhos penetravam na floresta em velhos trenós de madeira. Com muita felicidade e animação, eles cortavam algumas das árvores de tamanho médio e as levavam embora. Os cavalos veneráveis que puxavam os trenós resfolegavam, e os sinos nos seus arreios retiniam. O riso das crianças e dos adultos ecoava pelo bosque inteiro.
Ah, sim, o pinheirinho ouvira sussurros entre as árvores mais velhas, as que eram altas demais e grandes demais para serem derrubadas pelo machado e arrastadas dali — de que as árvores cortadas eram levadas para um lugar maravilhoso, chamado casa.
Ali, eram tratadas com o máximo respeito, afagadas por muitas mãos e postas numa água que lhes aplacava a dor.
Entre as árvores mais velhas que conheciam esses assuntos, dizia-se que essa era, para os humanos envolvidos, uma época de enorme alegria, pois lindas criancinhas vinham cantar, o fogo ardia em cada lareira e mesmo as estrelas no céu pareciam brilhar ainda mais. De acordo com a descrição das mais velhas, em toda a parte moças e rapazes podiam ser vistos apressando-se e carregando para o salão o alimento que tivessem para compartilhar com todos. As velhas usavam seus melhores aventais brancos. Os velhos, seus melhores ternos e chapéus pretos. E todas as mulheres usavam seus melhores vestidos pretos. Todos os meninos usavam calças que sempre davam coceira, e as meninas, saias perfeitas para ensaiar mesuras.
Ah, pensava o pinheirinho, tudo aquilo parecia perfeitamente maravilhoso. E era com isso que ele sonhava. Ano após ano, o pinheirinho esperava que o verão passasse, que o outono chegasse e afinal viesse a beleza do inverno. Quando sentia o frio cortante dos ventos, se alegrava. Ficava então felicíssimo no seu belo manto verde que se enchia mais e mais a cada ano que passava. E, também a cada ano, no inverno, os trenós vinham e cortavam as árvores novamente, enquanto as crianças gritavam e faziam bonecos de neve com formato de anjo nos grandes montes acumulados pelo vento. Apesar de o pinheirinho ser tímido, ele não conseguia se conter e a cada ano gritava com mais e mais atrevimento: "
Venham me escolher! Olhem para mim! Adoro crianças. Adoro essa comemoração fabulosa. Olhem para mim! Por favor! Venham me escolher!”
Ano após ano, porém, ninguém o escolhia. Muitas árvores já haviam sido retiradas da floresta ao seu redor e agora o parente mais próximo estava a uma boa distância, e o pinheirinho estava bastante só, mas também em pleno sol. E assim ele foi crescendo, crescendo, até ficar muito mais alto do que antes.
No inverno seguinte, voltaram os cavalos puxando um trenó com o pai, a mãe e crianças risonhas. Os cavalos empertigados passaram direto pelo pinheirinho, pois o pai estava avaliando um denso aglomerado de árvores mais ao longe. "Espere", gritou uma das crianças, "aquele ali atrás, aquele ali sozinho." E o pinheirinho começou a tremer de esperança. "Ah, isso mesmo! Cheguem mais perto! Olhem para mim! Por favor! Venham me escolher!" O pinheirinho se esforçava para ficar mais reto e mais alto. E a família deve ter ouvido o que dizia, pois o trenó parou, os cavalos deram meia-volta e logo a família estava abrindo caminho na neve espessa para examinar a árvore. "Ah, olhem como os galhos são cheios de vida", exclamou uma criança que tinha as bochechas perfeitamente rosadas. "Ah, vejam como essa árvore está verde e vigorosa", disse a mãe. "É", respondeu o pai, "essa aqui não parece nem alta nem baixa demais, está perfeita para nós.”
E o pai apanhou seu machado no trenó. Com o primeiro golpe, o pinheiro sentiu a maior dor de toda a sua vida. "Ai", gritou a árvore, "vou cair." E nesse exato momento, ele desmaiou. O machado continuou os golpes até que a árvore fosse separada da sua raiz, derramando grande quantidade de neve ao tombar. Muito mais tarde, o pinheiro voltou a si no reboque que vinha dançando atrás do trenó. Tilintavam os sininhos nos arreios dos cavalos, e o pinheiro ouvia a conversa e o riso das pessoas. A dor mais terrível parecia estar passando agora; além disso, ele tinha uma vaga lembrança de que estavam indo a alguma parte, a algum lugar importante, lindo e maravilhoso, a um lugar que ele havia desejado ver todos os dias e todos os anos da sua vida passada.
Quando ia escurecendo, o trenó com a família e a árvore no reboque estacionou diante de um chalé coberto de neve. Um velho e uma velha saíram pela neve adentro e se aproximaram do reboque, exclamando: "Que árvore linda, linda, tão alta e tão cheia. Do tamanho exato. Perfeita.” "Ah", pensou o pinheiro, "como é bom ser bem-vindo. Eu me pergunto se este não é o lugar aonde alguns dos meus vieram ao longo dos anos. Ah, espero voltar a vê-los em breve.” Os velhos o tiraram do reboque com mãos cuidadosas. Eles o admiraram, o afagaram, virando-o de um lado e do outro. Mergulharam o tronco cortado da árvore numa balde de água fresca que aliviou grande parte da sua dor. E quando apagaram os lampiões, o pinheiro, que amava a profunda escuridão da floresta, começou a amar também a escuridão daquela casa. Apesar de estar acostumado a ver o céu noturno inteiro, cheio de estrelas, e agora só enxergar um pedacinho de céu através de uma pequena vidraça na janela, havia uma estrela que cintilava mais do que as outras. Ao vê-la, o pinheiro pressentiu a promessa de que muito ainda estava por acontecer. Com esses pensamentos, ele, como o restante da casa, logo adormeceu num sono profundo e feliz.
Bem cedo na manhã do dia seguinte, houve muito barulho e rebuliço com todo mundo se cumprimentando, se queixando e tagarelando. Alguém estava tirando a poeira do balde de aparas de lenha para enchê-lo ruidosamente. Os cachorros entraram latindo de alegria, seguidos pelas crianças, depois a mãe e o pai, os mais velhos e também outras crianças e amigos, todos trazendo muitas caixas.
A árvore esperava, literalmente prendendo a respiração de tanta emoção. As pessoas tiraram as tampas das caixas, e dentro delas havia enfeites de todos os formatos e tamanhos, feitos de vidro finíssimo. Havia guirlandas de frutinhas e velas com pequenos papéis coloridos em copinhos de vidro. Em toda a sua volta, a árvore foi adornada e enfeitada com esses objetos. E depois, que maravilha! Dezenas de velas foram acesas, uma após a outra, e arrumadas em círculos e espirais até os galhos mais altos, deixando o pinheiro em glória absoluta.
Pela manhã, a árvore acordou sobressaltada quando as crianças entraram correndo, gritando e exclamando: "Ah, olhem como a árvore está linda, e os presentes ali embaixo." E elas abriam os embrulhos e exibiam belas bonecas de trapos com densas cabeleiras castanhas de lã e vestidos de crochê, feitos a mão. Em seguida, desembrulharam carroças feitas de restos de madeira com rodinhas que giravam de verdade. Elas arrancaram alegres as castanhas do pinheiro, e a árvore farfalhava os galhos, feliz por participar de tudo com que havia sonhado, e muito mais. Mais tarde, as crianças tiravam uma soneca no tapete e os adultos também cochilavam. Até mesmo os cães e os gatos estavam adormecidos, a sonhar.
E o pinheiro refletia sobre seu destino incrível e sobre todos os acontecimentos do dia. Estava felicíssimo. Naquela noite, quando todos estavam na cama e roncando baixinho — o cão e o gato, assim: zzzzzz; as crianças, assim: zzzzzz; e a mãe, o pai e os velhos, assim: ZZZZZZ — a árvore dormia profundamente também e sonhava com sua nova vida.
O pai entrou então, com passos pesados, e tirou todos os enfeites do pinheiro, guardando-os em caixas com camadas de enchimento de algodão. Depois, tirou a árvore da água e a sacudiu com tanta força que qualquer outra coisa que pudesse estar escondida nos galhos cairia ao chão. Ele deixou as guirlandas de frutinhas secas na árvore e a arrastou da sala. O pinheiro, apesar de surpreso com esse tratamento grosseiro, ainda estava esperançoso. "Ah, eu me pergunto para que sala iremos agora." Ele imaginou todo o processo jubiloso da decoração, dos presentes, das crianças dançando e de todos cantando, e suspirou ao pensar nisso tudo. O pai, no entanto, arrastou de maneira descuidada o pinheiro pela escada de madeira acima, que não parava de subir e cujos degraus iam se estreitando cada vez mais quanto mais eles subiam. E afinal, no patamar mais alto, o pai abriu uma pequena porta e, sem cerimônia, jogou a árvore lá dentro.
Mas o outro camundongo, de vestidinho e avental branco, cutucou o companheiro e falou com a árvore com gentileza: "Querida árvore, ora, você teve uma vida boa, não teve?” "Tive", concordou a árvore, com tristeza. "Ah, sei que você sentia ter nascido para essa vida, tanto que não desejava que ela mudasse. Mas...", e nesse ponto ela afagou a árvore, "todas as coisas, árvore querida, mesmo as coisas boas, têm seu fim.” "Esta época precisa terminar?", indagou o pinheiro. "Sim", respondeu o camundongo, erguendo a mão e acariciando-a novamente. "Essa época já terminou. Mas agora começa um tempo diferente. Uma nova vida, um tipo de vida diferente sempre se segue à antiga. Você vai ver.”
A porta do sótão foi aberta com violência, e o pai, usando um gorro de lã e um sobretudo, agarrou o pinheiro e o arrastou pela longa escada abaixo, pela porta, até o quintal. Ali, deitou o pinheiro num toco velho e ergueu muito alto um machado enorme, que caiu na árvore com o mais terrível dos pesos, provocando os ruídos mais medonhos de madeira dilacerada. Com o primeiro golpe, a árvore achou que ia morrer com a dor, e antes do segundo já estava inconsciente.
Muito tempo depois, o pinheiro acordou novamente no canto da sala especial e, embora não se sentisse muito bem, parecia que lhe faltavam apenas sua copa verde e que seus braços estavam arrumados de um modo totalmente diferente, em pedaços. No entanto, viu, nas poltronas diante da lareira, o velho casal que conhecera quando chegou à casa, vindo da floresta. Eram eles que haviam banhado seu ferimento com água fresca. Ali estavam eles, bem juntinhos diante do fogo. Apesar do seu estado, o pinheiro sorriu com o amor que via entre os dois.
Quando estava sendo varrido da lareira pelos velhos, pensou que sua vida fora gloriosa, mais do que esperara, só que agora a nada poderia aspirar.
A cada inverno, pais, mães e seus filhos penetravam na floresta em velhos trenós de madeira. Com muita felicidade e animação, eles cortavam algumas das árvores de tamanho médio e as levavam embora. Os cavalos veneráveis que puxavam os trenós resfolegavam, e os sinos nos seus arreios retiniam. O riso das crianças e dos adultos ecoava pelo bosque inteiro.
Ah, sim, o pinheirinho ouvira sussurros entre as árvores mais velhas, as que eram altas demais e grandes demais para serem derrubadas pelo machado e arrastadas dali — de que as árvores cortadas eram levadas para um lugar maravilhoso, chamado casa.
Ali, eram tratadas com o máximo respeito, afagadas por muitas mãos e postas numa água que lhes aplacava a dor.
Depois, ao
que se dizia,
uma família inteira de pessoas sorridentes se reunia ao seu redor. Elas
enfeitavam a árvore com objetos
pequenos e lindos: pequenos
globos feitos de fita
com amêndoas dentro, doces
e outras guloseimas.
Velinhas esplêndidas eram acesas e colocadas nos galhos e ramos da
árvore. Finalmente, decorada com balas,
guirlandas de frutas
e às vezes
até enfeites de
vidro e minúsculos espelhos coloridos. A
árvore então se tornava
o convidado mais
reverenciado da casa. Era de
fato, uma das
glórias mais magníficas
que se poderia
um dia conceder a uma árvore.
Entre as árvores mais velhas que conheciam esses assuntos, dizia-se que essa era, para os humanos envolvidos, uma época de enorme alegria, pois lindas criancinhas vinham cantar, o fogo ardia em cada lareira e mesmo as estrelas no céu pareciam brilhar ainda mais. De acordo com a descrição das mais velhas, em toda a parte moças e rapazes podiam ser vistos apressando-se e carregando para o salão o alimento que tivessem para compartilhar com todos. As velhas usavam seus melhores aventais brancos. Os velhos, seus melhores ternos e chapéus pretos. E todas as mulheres usavam seus melhores vestidos pretos. Todos os meninos usavam calças que sempre davam coceira, e as meninas, saias perfeitas para ensaiar mesuras.
Ah, pensava o pinheirinho, tudo aquilo parecia perfeitamente maravilhoso. E era com isso que ele sonhava. Ano após ano, o pinheirinho esperava que o verão passasse, que o outono chegasse e afinal viesse a beleza do inverno. Quando sentia o frio cortante dos ventos, se alegrava. Ficava então felicíssimo no seu belo manto verde que se enchia mais e mais a cada ano que passava. E, também a cada ano, no inverno, os trenós vinham e cortavam as árvores novamente, enquanto as crianças gritavam e faziam bonecos de neve com formato de anjo nos grandes montes acumulados pelo vento. Apesar de o pinheirinho ser tímido, ele não conseguia se conter e a cada ano gritava com mais e mais atrevimento: "
Venham me escolher! Olhem para mim! Adoro crianças. Adoro essa comemoração fabulosa. Olhem para mim! Por favor! Venham me escolher!”
Ano após ano, porém, ninguém o escolhia. Muitas árvores já haviam sido retiradas da floresta ao seu redor e agora o parente mais próximo estava a uma boa distância, e o pinheirinho estava bastante só, mas também em pleno sol. E assim ele foi crescendo, crescendo, até ficar muito mais alto do que antes.
No inverno seguinte, voltaram os cavalos puxando um trenó com o pai, a mãe e crianças risonhas. Os cavalos empertigados passaram direto pelo pinheirinho, pois o pai estava avaliando um denso aglomerado de árvores mais ao longe. "Espere", gritou uma das crianças, "aquele ali atrás, aquele ali sozinho." E o pinheirinho começou a tremer de esperança. "Ah, isso mesmo! Cheguem mais perto! Olhem para mim! Por favor! Venham me escolher!" O pinheirinho se esforçava para ficar mais reto e mais alto. E a família deve ter ouvido o que dizia, pois o trenó parou, os cavalos deram meia-volta e logo a família estava abrindo caminho na neve espessa para examinar a árvore. "Ah, olhem como os galhos são cheios de vida", exclamou uma criança que tinha as bochechas perfeitamente rosadas. "Ah, vejam como essa árvore está verde e vigorosa", disse a mãe. "É", respondeu o pai, "essa aqui não parece nem alta nem baixa demais, está perfeita para nós.”
E o pai apanhou seu machado no trenó. Com o primeiro golpe, o pinheiro sentiu a maior dor de toda a sua vida. "Ai", gritou a árvore, "vou cair." E nesse exato momento, ele desmaiou. O machado continuou os golpes até que a árvore fosse separada da sua raiz, derramando grande quantidade de neve ao tombar. Muito mais tarde, o pinheiro voltou a si no reboque que vinha dançando atrás do trenó. Tilintavam os sininhos nos arreios dos cavalos, e o pinheiro ouvia a conversa e o riso das pessoas. A dor mais terrível parecia estar passando agora; além disso, ele tinha uma vaga lembrança de que estavam indo a alguma parte, a algum lugar importante, lindo e maravilhoso, a um lugar que ele havia desejado ver todos os dias e todos os anos da sua vida passada.
Quando ia escurecendo, o trenó com a família e a árvore no reboque estacionou diante de um chalé coberto de neve. Um velho e uma velha saíram pela neve adentro e se aproximaram do reboque, exclamando: "Que árvore linda, linda, tão alta e tão cheia. Do tamanho exato. Perfeita.” "Ah", pensou o pinheiro, "como é bom ser bem-vindo. Eu me pergunto se este não é o lugar aonde alguns dos meus vieram ao longo dos anos. Ah, espero voltar a vê-los em breve.” Os velhos o tiraram do reboque com mãos cuidadosas. Eles o admiraram, o afagaram, virando-o de um lado e do outro. Mergulharam o tronco cortado da árvore numa balde de água fresca que aliviou grande parte da sua dor. E quando apagaram os lampiões, o pinheiro, que amava a profunda escuridão da floresta, começou a amar também a escuridão daquela casa. Apesar de estar acostumado a ver o céu noturno inteiro, cheio de estrelas, e agora só enxergar um pedacinho de céu através de uma pequena vidraça na janela, havia uma estrela que cintilava mais do que as outras. Ao vê-la, o pinheiro pressentiu a promessa de que muito ainda estava por acontecer. Com esses pensamentos, ele, como o restante da casa, logo adormeceu num sono profundo e feliz.
Bem cedo na manhã do dia seguinte, houve muito barulho e rebuliço com todo mundo se cumprimentando, se queixando e tagarelando. Alguém estava tirando a poeira do balde de aparas de lenha para enchê-lo ruidosamente. Os cachorros entraram latindo de alegria, seguidos pelas crianças, depois a mãe e o pai, os mais velhos e também outras crianças e amigos, todos trazendo muitas caixas.
A árvore esperava, literalmente prendendo a respiração de tanta emoção. As pessoas tiraram as tampas das caixas, e dentro delas havia enfeites de todos os formatos e tamanhos, feitos de vidro finíssimo. Havia guirlandas de frutinhas e velas com pequenos papéis coloridos em copinhos de vidro. Em toda a sua volta, a árvore foi adornada e enfeitada com esses objetos. E depois, que maravilha! Dezenas de velas foram acesas, uma após a outra, e arrumadas em círculos e espirais até os galhos mais altos, deixando o pinheiro em glória absoluta.
"Ah, isso
é tudo o
que os mais
velhos lá na
floresta descreviam, e muito
mais", exclamou o
pinheiro. Ele fez um
esforço
enorme para esticar ainda mais os seus galhos enquanto
procurava ficar o mais bonito possível. As crianças gritavam
e corriam ao
redor, enquanto outros
tocavam e cantavam; ah,
que alegria, especialmente
quando uma linda
criança, erguida pelo
avô, colocou uma estrela de papel no ponteiro bem no alto da árvore.
Naquela
noite, depois que
as crianças dormiram
e o pinheiro cochilava, enquanto o brilho da
grande estrela entrava pelas janelas, os mais velhos entraram furtivos na sala
com presentes embrulhados em papel pardo liso e bonito, enfeitado com retalhos
de pano que eles haviam unido com uma linha
colorida de bordar.
No consolo da
lareira, puseram cavalinhos, porquinhos, patinhos
e vaquinhas feitos
de maçãs e
laranjas, com gravetos enfiados no
lugar das pernas,
e olhos e
focinhos esculpidos de
modo a parecer que estavam
sorrindo. E todos foram feitos por mãos cheias daquele tipo de amor que deseja
surpreender e agradar as criancinhas. Pela manhã, a árvore acordou sobressaltada quando as crianças entraram correndo, gritando e exclamando: "Ah, olhem como a árvore está linda, e os presentes ali embaixo." E elas abriam os embrulhos e exibiam belas bonecas de trapos com densas cabeleiras castanhas de lã e vestidos de crochê, feitos a mão. Em seguida, desembrulharam carroças feitas de restos de madeira com rodinhas que giravam de verdade. Elas arrancaram alegres as castanhas do pinheiro, e a árvore farfalhava os galhos, feliz por participar de tudo com que havia sonhado, e muito mais. Mais tarde, as crianças tiravam uma soneca no tapete e os adultos também cochilavam. Até mesmo os cães e os gatos estavam adormecidos, a sonhar.
E o pinheiro refletia sobre seu destino incrível e sobre todos os acontecimentos do dia. Estava felicíssimo. Naquela noite, quando todos estavam na cama e roncando baixinho — o cão e o gato, assim: zzzzzz; as crianças, assim: zzzzzz; e a mãe, o pai e os velhos, assim: ZZZZZZ — a árvore dormia profundamente também e sonhava com sua nova vida.
No dia seguinte
e no outro,
a árvore continuou
orgulhosa na sala, embora estivesse um pouco desarrumada por ter todas as fitas
arrancadas e porque sua estrela estava
meio caída sobre um dos seus olhos.
Apesar disso, tudo
estava uma glória
mesmo quando o
pinheiro viu que
a maioria das crianças
e dos adultos
subia nos trenós
e ia embora.
"Ora, estarão de
volta hoje à noite",
pensou o pinheiro,
"e então vão
mais uma vez
pôr meu tronco machucado numa
água fresca e
nova. Vão me
decorar de novo,
e a festa vai recomeçar.” O pai entrou então, com passos pesados, e tirou todos os enfeites do pinheiro, guardando-os em caixas com camadas de enchimento de algodão. Depois, tirou a árvore da água e a sacudiu com tanta força que qualquer outra coisa que pudesse estar escondida nos galhos cairia ao chão. Ele deixou as guirlandas de frutinhas secas na árvore e a arrastou da sala. O pinheiro, apesar de surpreso com esse tratamento grosseiro, ainda estava esperançoso. "Ah, eu me pergunto para que sala iremos agora." Ele imaginou todo o processo jubiloso da decoração, dos presentes, das crianças dançando e de todos cantando, e suspirou ao pensar nisso tudo. O pai, no entanto, arrastou de maneira descuidada o pinheiro pela escada de madeira acima, que não parava de subir e cujos degraus iam se estreitando cada vez mais quanto mais eles subiam. E afinal, no patamar mais alto, o pai abriu uma pequena porta e, sem cerimônia, jogou a árvore lá dentro.
A árvore exclamou alarmada no que lhe pareceu um
grande grito: "Que tipo de escuridão
é esta?" Mas
a verdade é
que ninguém pareceu
ouvir, pois o pai
fechou a porta e desceu de volta pela escada. No quartinho frio no sótão, não
havia luz a não ser por uma janelinha embaçada na lateral do telhado, através
da qual brilhava aquela estrela enorme. "Ai, pobre
de mim", pensou
o pinheiro, tateando
todos os galhos para ver se havia alguma fratura.
"O que eu fiz para ser abandonado num lugar tão frio e solitário?” Mas
ninguém ouviu. E
ali o pinheiro
ficou muitos dias e
muitas noites.
Certa
noite, porém, com
o canto do
olho, o pinheiro
viu quatro pontos vermelhos
reluzentes. Eram os olhos de dois ratinhos minúsculos que ocupavam as
paredes do sótão.
"Ah", disse-lhes, em voz baixa,
''ah, minhas senhoras, sabem me
dizer quando virão me buscar, quando voltarei para a sala especial?” O
camundongo de macacão e cachecol começou a rir e a gaguejar: "V-v-v-vir
para levar você de volta para a sala especial? Ha, ha, ha.” Mas o outro camundongo, de vestidinho e avental branco, cutucou o companheiro e falou com a árvore com gentileza: "Querida árvore, ora, você teve uma vida boa, não teve?” "Tive", concordou a árvore, com tristeza. "Ah, sei que você sentia ter nascido para essa vida, tanto que não desejava que ela mudasse. Mas...", e nesse ponto ela afagou a árvore, "todas as coisas, árvore querida, mesmo as coisas boas, têm seu fim.” "Esta época precisa terminar?", indagou o pinheiro. "Sim", respondeu o camundongo, erguendo a mão e acariciando-a novamente. "Essa época já terminou. Mas agora começa um tempo diferente. Uma nova vida, um tipo de vida diferente sempre se segue à antiga. Você vai ver.”
E os dois camundongos fizeram companhia à
árvore a noite
inteira.
Contaram histórias e
cantaram todas as músicas que
conheciam. O pinheiro
perguntou se os camundongos não
gostariam de subir nos seus galhos para se
aquecer, e
eles disseram que
sim, muito obrigado,
e subiram. Juntos
eles
dormiram durante a noite escura com a
grande estrela lá fora se aproximando
cada
vez mais da
janela, quase como
se soubesse de
seus destinos e, com
pena, lançasse
sua luz ainda mais sobre eles.
Pela
manhã, o
pinheiro e os
camundongos foram despertados
abruptamente pelo
ruído de
passos pesados na
escada, e o
casal de
camundongos saltou dos galhos do
pinheiro. "Adeus, querido amigo. Lembre-
se
de nós como nós nos
lembraremos de você e
da sua bondade." E os
camundongos correram para a fresta na
parede.
"E eu, de vocês",
exclamou a árvore. "Eu me
lembrarei de vocês.”
A porta do sótão
foi aberta com violência, e o pai, usando
um gorro
de
lã e
um sobretudo, agarrou
o pinheiro e
o arrastou pela
longa escada
E os dois camundongos fizeram companhia para o
pinheirinho a noite inteira. Contaram
histórias e cantaram
todas as músicas
que conheciam. O
pinheiro perguntou se os camundongos não gostariam de subir nos seus
galhos para se aquecer, e eles disseram que
sim, muito obrigado,
e subiram. Juntos
eles dormiram durante a noite escura com a grande estrela lá fora se
aproximando cada vez mais
da janela, quase
como se soubesse
de seus destinos
e, com pena, lançasse sua luz
ainda mais sobre eles.
Pela
manhã, o pinheiro
e os camundongos foram
despertados pelo ruído
de passos pesados
na escada, e
o casal de camundongos saltou dos galhos do pinheiro.
"Adeus, querido amigo. Lembre-se
de nós como
nós nos lembraremos
de você e
da sua bondade." E os
camundongos correram para a fresta na parede. "E eu, de vocês",
exclamou a árvore. "Eu me lembrarei de vocês.” A porta do sótão foi aberta com violência, e o pai, usando um gorro de lã e um sobretudo, agarrou o pinheiro e o arrastou pela longa escada abaixo, pela porta, até o quintal. Ali, deitou o pinheiro num toco velho e ergueu muito alto um machado enorme, que caiu na árvore com o mais terrível dos pesos, provocando os ruídos mais medonhos de madeira dilacerada. Com o primeiro golpe, a árvore achou que ia morrer com a dor, e antes do segundo já estava inconsciente.
Muito tempo depois, o pinheiro acordou novamente no canto da sala especial e, embora não se sentisse muito bem, parecia que lhe faltavam apenas sua copa verde e que seus braços estavam arrumados de um modo totalmente diferente, em pedaços. No entanto, viu, nas poltronas diante da lareira, o velho casal que conhecera quando chegou à casa, vindo da floresta. Eram eles que haviam banhado seu ferimento com água fresca. Ali estavam eles, bem juntinhos diante do fogo. Apesar do seu estado, o pinheiro sorriu com o amor que via entre os dois.
O velho levantou-se
e jogou um
dos braços do
pinheiro no fogo. Embora
de início o
pinheiro resistisse e
protestasse, logo compreendeu, enquanto a chama queimava cada
vez mais fundo no seu coração, que aquela era
sua alegre missão
no mundo —
dar calor para
pessoas como essas.
Ah, ser aquecido de dentro para fora pelo amor, e de fora para dentro
pelo amor de alguém como ele.
O pinheiro ardeu
então com uma
força ainda maior.
"Ah, nunca pensei que
pudesse queimar com
tanto brilho, que
pudesse encher uma
sala com tanto calor.
Amo esses velhos
com todo o
meu coração." O
pinheiro e todos os
nós na sua
madeira — e
no seu cerne
— explodiam de
alegria nas chamas. Noite após
noite, o pinheiro
permitia essa entrega.
Era tão completa sua
alegria por ser
útil e ter
vida desse modo
que ele queimou
e queimou até não
restar mais nada
dele, a não
ser as cinzas
que jaziam no fundo da lareira. Quando estava sendo varrido da lareira pelos velhos, pensou que sua vida fora gloriosa, mais do que esperara, só que agora a nada poderia aspirar.
O
casal de velhos
era muito cuidadoso
e, com suas mãos velhas
e
sábias,
varreu delicadamente cada fragmento de cinzas da lareira. Puseram as
cinzas
num saco macio
e muito usado
e o guardaram
até a
chegada da
primavera
O casal de
velhos era muito
cuidadoso e, com
suas mãos velhas
e sábias, varreu delicadamente cada fragmento de cinzas da lareira.
Puseram as cinzas num saco
macio e muito
usado e o
guardaram até a
chegada da primavera.
Quando a terra começou a se aquecer, o velho e a velha
trouxeram para fora de
casa o saco
de cinzas, entraram
pelos jardins e
campos e espalharam cuidadosamente as
cinzas do pinheiro
por todas as
videiras e também por
todas as suas
terras. Eles misturaram
as cinzas do
pinheiro ao solo. Com
o tempo, quando
as chuvas e
o sol da
primavera chegaram para ficar, as cinzas sentiram sinais de vida
por baixo delas.
Aqui e acolá,
por baixo, através
e em volta
das cinzas, surgiam minúsculos brotos verdes das
entranhas do solo, e o pinheiro deu milhares de sorrisos e milhares de suspiros
na sua felicidade por voltar a ser útil.
"Ai, eu não sabia que podia virar um monte de
cinzas e ainda assim voltar a produzir
tanta vida nova.
Que sorte enorme
coube à minha
vida. Cresci no isolamento da floresta. Mais tarde, que belos dias e
noites de copos a tilintar, de luz de
velas e cantorias eu vim a conhecer. Na minha época de solidão e
carência, na mais
escura das noites,
tive a amizade
de estranhos, como se fôssemos
uma só família,
ou até mais
do que isso.
Mesmo quando estava sendo
dilacerado pelo fogo,
descobri que podia
emitir imensa luz e
calor do meu próprio coração. Que sorte, como fui afortunado.
Ah",
suspirou o pinheiro,
"de tudo que
cresce, cai e
cresce novamente, é só o amor pela vida nova, e apenas ele, que dura
para sempre.
Agora estou em toda a parte. Está vendo como vou
longe?” Naquela noite,
quando a grande
estrela cruzava o
céu noturno do universo,
o pinheiro jazia
sobre a terra
abençoada, aninhando-se junto
às raízes e sementes
para aquecê-las com
suas próprias cinzas,
nutrindo para sempre todas
as coisas que
crescem; e essas,
por sua vez,
nutrindo outras, que por sua vez
nutririam ainda outras, por todas as gerações futuras. Naquela lindíssima
terra, da qual ele vinha e para a qual agora voltava, ele dormiu bem e teve
sonhos profundos, cercado ali — como um dia estivera cercado antes no meio da
floresta — por aquilo que é muito maior, mais majestoso e muito mais antigo do
que jamais se conheceu.
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